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“O pior da bofetada é o som. Se fosse possível uma bofetada muda, não
haveria ofensa, nem humilhação, nada. Agressor e vítima poderiam, em
seguida, ir tomar cerveja no boteco mais próximo, em festiva
confraternização”.
haveria ofensa, nem humilhação, nada. Agressor e vítima poderiam, em
seguida, ir tomar cerveja no boteco mais próximo, em festiva
confraternização”.
O redator do blog lembrou do genial cronista e escritor Nelson Rodrigues, ao presenciar hoje, numa rua do bairro de Canudos, um fato testemunhado por poucas pessoas, no começo da tarde. Uma mulher, furiosa, apoplética, beirando à insanidade, esbofeteou várias vezes um homem, provavelmente marido ou amante que havia pulado a cerca. Ela gritava palavrões cabeludos, enquanto desferia nele seguidas bofetadas.
O homem abaixava a cabeça e o tapa explodia. No meio da cara. E haja força no braço daquela mulher. Embora magra e baixinha, ela caprichava. A mão, aberta, subia e descia. O som da bofetada ecoava pela rua. Quem sabe por todo o bairro de Canudos, por toda a cidade.
O espancado, pelo que percebi, se deixava bater num misto de gozo e omissão. Não reagia. A mulher poderia até não saber porque estava batendo, mas o cara, com certeza, sabia porque estava apanhando.
Em um barzinho, defronte de onde se desenrolava o acerto de contas, um velhusco contemplava a cena com evidente desdém. Na calçada ao lado, uma senhora que varria o lixo, discretamente, olhava em direção aos dois personagens daquela cena inusitada, soltando um sorriso meio maroto.
Não deu para contar, mas o redator calcula que pelo menos umas dez bofetadas foram desferidas na cara do sujeito pela mulher descontrolada. De tanto bater e repetir seguidas vezes a palavra “safado”, a mulher cansou.
Em seguida, ela foi embora, caminhando em direção ao Terminal Rodoviário, sob sol a pino, enquanto o agredido a olhava de banda. Quem sabe, torcendo para que ela não voltasse e reiniciasse o festival de tabefes.
Se Nelson Rodrigues estivesse vivo, ele provavelmente babaria de prazer ao ver aquela cena. E certamente escreveria um texto primoroso em sua crônica no jornal, que no dia seguinte, daria a seguinte manchete: “As bofetadas que ensurdeceram Belém do Pará”.
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