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Wittgenstein escreveu o seu Tractatus Logico-Philosophicus dos
25 aos 28 anos, durante a Primeira Guerra, na qual participou como
voluntário, alistado no exército austro-húngaro. Heidegger escreveu Ser e Tempo com pouco mais de 30 anos. A mais famosa tesi di laurea da história da universidade italiana, intitulada La persuasione e la rettorica,
de Carlo Michelstaedter, um jovem de Gorizia, perto de Trieste, que
restaurou com um grupo de amigos a prática do simpósio em que só era
permitido falar grego clássico, foi finalizada quando o seu autor tinha
23 anos. Walter Benjamin publicou os seus primeiros textos – sobre a
cultura juvenil e a educação escolar – quando tinha 15 anos. Lukács
escreveu A Alma e as Formas quando tinha pouco mais de 20.
25 aos 28 anos, durante a Primeira Guerra, na qual participou como
voluntário, alistado no exército austro-húngaro. Heidegger escreveu Ser e Tempo com pouco mais de 30 anos. A mais famosa tesi di laurea da história da universidade italiana, intitulada La persuasione e la rettorica,
de Carlo Michelstaedter, um jovem de Gorizia, perto de Trieste, que
restaurou com um grupo de amigos a prática do simpósio em que só era
permitido falar grego clássico, foi finalizada quando o seu autor tinha
23 anos. Walter Benjamin publicou os seus primeiros textos – sobre a
cultura juvenil e a educação escolar – quando tinha 15 anos. Lukács
escreveu A Alma e as Formas quando tinha pouco mais de 20.
Escolhi estes exemplos por pertencerem todos a um tempo, o início do
século XX, e a um espaço cultural onde os movimentos de juventude foram
muito importantes do ponto de vista social, político e até filosófico
(Walter Benjamin escreveu em 1913, tinha 21 anos, um texto programático
chamado Metafísica da Juventude). À juventude cabia a missão
de imprimir uma marca profunda na sua época.
século XX, e a um espaço cultural onde os movimentos de juventude foram
muito importantes do ponto de vista social, político e até filosófico
(Walter Benjamin escreveu em 1913, tinha 21 anos, um texto programático
chamado Metafísica da Juventude). À juventude cabia a missão
de imprimir uma marca profunda na sua época.
Essa missão, de carácter
messiânico, recusava o convencional engagement político e tinha
uma inspiração anarquista e romântica. A juventude devia realizar uma
verdadeira redenção da cultura moderna. Ora, o que é feito hoje da
juventude? A resposta é simples: é um ideal de beleza física e um
conjunto de hábitos, práticas de consumo e modas vestimentárias. Mas é
também uma vida bloqueada. A Universidade moderna, fundada em Berlim por
Humboldt no princípio do século XIX, tinha como um dos seus princípios
fundamentais a renovação do saber pela sucessão das gerações.
messiânico, recusava o convencional engagement político e tinha
uma inspiração anarquista e romântica. A juventude devia realizar uma
verdadeira redenção da cultura moderna. Ora, o que é feito hoje da
juventude? A resposta é simples: é um ideal de beleza física e um
conjunto de hábitos, práticas de consumo e modas vestimentárias. Mas é
também uma vida bloqueada. A Universidade moderna, fundada em Berlim por
Humboldt no princípio do século XIX, tinha como um dos seus princípios
fundamentais a renovação do saber pela sucessão das gerações.
Hoje, as
escolas e as universidades, em boa parte da Europa, estão envelhecidas: a
grande maioria dos professores tem mais de cinquenta anos. Não só há um
fosso etário profundo entre eles e os alunos (no ensino básico e
secundário isto é gravíssimo) como estes não têm qualquer hipótese de
suceder aos seus professores. E noutras profissões acontece o mesmo: os
jornais, por exemplo, estão habitados por uma população que anda de olho neles
há muito tempo (categoria de usurpadores na qual me incluo) e os vai
ocupar até que eles se extingam. Está para breve. Todos aqueles que nos
últimos anos entraram de novo na profissão foi apenas para providenciar à
proletarização do jornalismo.
escolas e as universidades, em boa parte da Europa, estão envelhecidas: a
grande maioria dos professores tem mais de cinquenta anos. Não só há um
fosso etário profundo entre eles e os alunos (no ensino básico e
secundário isto é gravíssimo) como estes não têm qualquer hipótese de
suceder aos seus professores. E noutras profissões acontece o mesmo: os
jornais, por exemplo, estão habitados por uma população que anda de olho neles
há muito tempo (categoria de usurpadores na qual me incluo) e os vai
ocupar até que eles se extingam. Está para breve. Todos aqueles que nos
últimos anos entraram de novo na profissão foi apenas para providenciar à
proletarização do jornalismo.
Um dia, todo o país das profissões
clássicas vai entrar na reforma ao mesmo tempo e não haverá professores,
nem médicos, nem funcionários públicos porque entretanto não foram
formados, uma vez que não havia lugar para eles, por falta de
“empregabilidade”. A sociedade que assim está a ser construída é estéril
e corporativa. Aqueles que têm experiência exigem experiência aos que a
não têm. A experiência é o requisito que serve de máscara ao sénior e
lhe garante que tudo continua na mesma. É, em suma, o capital detido por
aqueles que já perderam a juventude, os ideais, a esperança.
clássicas vai entrar na reforma ao mesmo tempo e não haverá professores,
nem médicos, nem funcionários públicos porque entretanto não foram
formados, uma vez que não havia lugar para eles, por falta de
“empregabilidade”. A sociedade que assim está a ser construída é estéril
e corporativa. Aqueles que têm experiência exigem experiência aos que a
não têm. A experiência é o requisito que serve de máscara ao sénior e
lhe garante que tudo continua na mesma. É, em suma, o capital detido por
aqueles que já perderam a juventude, os ideais, a esperança.
A
metafísica da juventude, a ideia da juventude como uma categoria ética e
do “espírito”, foi completamente abolida e o que ficou no lugar dela é o
racionalismo dos velhos. Por isso já não há uma vida dos estudantes e
até a vida da infância está a desaparecer. A tarefa política mais
urgente seria a criação de movimentos de juventude para recusar com
veemência a mutilação e a instrumentalização a que os jovens estão
submetidos.
metafísica da juventude, a ideia da juventude como uma categoria ética e
do “espírito”, foi completamente abolida e o que ficou no lugar dela é o
racionalismo dos velhos. Por isso já não há uma vida dos estudantes e
até a vida da infância está a desaparecer. A tarefa política mais
urgente seria a criação de movimentos de juventude para recusar com
veemência a mutilação e a instrumentalização a que os jovens estão
submetidos.
Hoje, já ninguém escreve um Tractatus aos 25 anos porque a um jovem não é dada aquela disponibilidade a que dantes se chamava “abstração pura do espírito”.
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