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Meu pai, Osmundo Mendes, quase virou jogador do Paysandu, nos anos 40, e só não o foi porque não aceitou ser reserva de ninguém menos do que Guimarães, chamado de o Cerebral, pela torcida bicolor. Guimarães foi um dos onze na histórica e inesquecível goleada de 7 a 0 sobre o maior rival, em 1945, dentro do estádio remista conhecido por Baenão.
Osmundo foi artilheiro por dois anos consecutivos nos campos de pelada de Belém, pelo Liderança Esporte Clube, do bairro do Umarizal, numa época em que ainda não existia futebol profissional. Em vista disso, era comum craques dos grandes clubes, como Paysandu, Remo, Tuna, União Esportiva, também atuarem por clubes suburbanos, onde eram ídolos nos bairros onde moravam.
No primeiro e único treino que fez no Paysandu, na Curuzu, Osmundo abafou, fazendo dois gols. Eu mal era nascido e quando me entendia por gente ouvia minha mãe, Maria de Nazareth, contar a alegria de meu pai narrando em casa que havia encantado a Curuzu com seus gols, diante das estrelas que admirava.
E quando perguntaram em que posição queria jogar no Papão, ele respondeu que seria como meia avançado, onde dominava o setor com refinada técnica, velocidade e dribles desconcertantes que o consagraram nos campos do subúrbio como artilheiro implacável. O Liderança ficou dois anos sem perder para nenhuma clube da capital. E Osmundo, ao lado do irmão, Osvaldo, não dava trégua aos adversários, batendo a todos com gols incríveis. Os troféus de artilheiro, guardados em casa, eram a prova viva de sua performance
Os dirigentes do Paysandu disserram a meu pai que ele poderia jogar em outra posição, ao lado de Guimarães, que era o meia titular. Ele aceitou, mas não chegou a estrear no Papão, pois uma grave contusão no joelho, durante um treino, o tirou dos gramados. Naquela época não havia departamento médico nos clubes e cada um tinha que se virar como pudesse, recorrendo aos hospitais públicos.
Ele preferiu parar a ter de jogar à base de injeções para suportar as dores no joelho. Optou por ser torcedor do clube que amava. E eu o segui no amor ao Paysandu, assim como meus irmãos, Raimundo, Roberto, Graça, Sônia e o caçula, Paulo Ricardo. Desde menino, eu meus irmãos íamos para a Curuzu com ele, ver o Papão bater os adversários.
Pelo rádio, quando não podia ir ao estádio, meu pai torcia como nunca, gritava, pulava na hora dos gols. E sofria com as derrotas, juntamente com a família. Lembro sempre disso e hoje, esteja onde estiver, nas esferas celestias, ele continua mais Paysandu do que nunca.
Meus filhos, Carlos André, Carlos Augusto e Luciana, também são bicolores até na alma. Seguiram a paixão do pai, como eu segui a do meu. Sempre vibrando e torcendo pelo clube que não é apenas um clube, mas um estado de espírito: o Paysandu Sport Club, o Papão da Curuzu.
Neste Dia dos Pais, rendo minhas homenagens a Osmundo de Moura Andrade Mendes, um legítimo bicolor, que me ensinou lições de caráter, ética e respeito aos outros. A ele devo tudo. Até a afeição ao Paysandu.
Nesse vídeo que o Paysandu fez para homenagear os pais bicolores, peço licença para render minha eterna admiração ao meu pai.
Obrigado, “seu” Osmundo.
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