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Gleise rende honras ao ditador: ruptura de princípios da história do PT |
Mathias de Alencastro – cientista político
Talvez a maior especificidade do avanço ultraconservador no Brasil tenha sido o engessamento do principal partido da social-democracia. Se os trabalhistas britânicos lançaram as bases de uma refundação e os socialistas franceses entraram em via de extinção, o PT continua tendo a maior bancada, mas segue avesso a qualquer tipo de renovação. É o pior dos dois mundos.
A história contará como a atual cúpula petista manipulou um drama
nacional _a detenção da maior liderança da era democrática_ e
deslegitimou a campanha do seu maior agente renovador _Fernando Haddad_
para assegurar a sua sobrevivência.
nacional _a detenção da maior liderança da era democrática_ e
deslegitimou a campanha do seu maior agente renovador _Fernando Haddad_
para assegurar a sua sobrevivência.
Os líderes do Congresso Nacional Africano, referência mitológica dos
dirigentes do PT, jamais se esconderam entre as pernas de Nelson
Mandela. A identidade do partido sempre foi maior do que a do seu
símbolo, tendo sido possível substituí-lo sem perder força política.
Décadas se passaram desde a presidência de Madiba, e a CNA continua um
viveiro de lideranças.
dirigentes do PT, jamais se esconderam entre as pernas de Nelson
Mandela. A identidade do partido sempre foi maior do que a do seu
símbolo, tendo sido possível substituí-lo sem perder força política.
Décadas se passaram desde a presidência de Madiba, e a CNA continua um
viveiro de lideranças.
Para o campo progressista, a consequência mais imediata da obtusidade
burocrática foi a de juntar a ofensa à derrota histórica e às angústias
sobre o que vem pela frente. Especificamente, a ofensa de ver os
dirigentes apresentarem, na sua primeira missiva pós-eleitoral, uma
visão que glorifica o seu próprio desempenho e coopta os eleitores não
petistas, essa coalizão heteróclita e improvável de psolistas a tucanos
cujos apelos por uma maior abertura foram rigorosamente desdenhados
durante a campanha.
burocrática foi a de juntar a ofensa à derrota histórica e às angústias
sobre o que vem pela frente. Especificamente, a ofensa de ver os
dirigentes apresentarem, na sua primeira missiva pós-eleitoral, uma
visão que glorifica o seu próprio desempenho e coopta os eleitores não
petistas, essa coalizão heteróclita e improvável de psolistas a tucanos
cujos apelos por uma maior abertura foram rigorosamente desdenhados
durante a campanha.
Soma-se a ofensa de ver pavonear figuras ultrapassadas como José
Dirceu que, em recente entrevista, ousou falar de “nós”, como se tivesse
um resquício de autoridade para palpitar sobre o futuro.
Dirceu que, em recente entrevista, ousou falar de “nós”, como se tivesse
um resquício de autoridade para palpitar sobre o futuro.
A ofensa maior que representa a ida da presidente do partido à posse de Nicolás Maduro é o sinal que faltava para uma insurreição dos progressistas.
Ao aterrissar em Caracas, Gleisi Hoffmann realiza
a fantasia daqueles que buscam por todas as formas etiquetar o PT como
antidemocrático, agrava o distanciamento com a social-democracia
europeia –unânime na condenação do regime de Maduro– e relembra aos
brasileiros que o partido continua refém da sua ala mais sectária. A ida a Caracas será lembrada como o ponto de ruptura dos atuais dirigentes com todos os princípios que nortearam a história do partido.
a fantasia daqueles que buscam por todas as formas etiquetar o PT como
antidemocrático, agrava o distanciamento com a social-democracia
europeia –unânime na condenação do regime de Maduro– e relembra aos
brasileiros que o partido continua refém da sua ala mais sectária. A ida a Caracas será lembrada como o ponto de ruptura dos atuais dirigentes com todos os princípios que nortearam a história do partido.
Numa palestra a poucas semanas da eleição, Márcio Pochmann, entre uma
sonolenta digressão sobre a burguesia industrial e uma delirante
interpretação da reforma da previdência, comoveu-se com o destino do
Partido Socialista Francês, obrigado a vender a sua sede depois da
debacle de 2017.
sonolenta digressão sobre a burguesia industrial e uma delirante
interpretação da reforma da previdência, comoveu-se com o destino do
Partido Socialista Francês, obrigado a vender a sua sede depois da
debacle de 2017.
A sede do PT continua de pé –mas a que custo? Os atos e declarações
recentes dos dirigentes são mais uma camada de cimento que fazem dessa
sede um bunker em que ninguém entra –e as rachaduras, cada vez maiores,
tornam o risco de desabamento iminente. (artigo publicado na edição desta sexta-feira, 11, do jornal “Folha de S.Paulo”.
recentes dos dirigentes são mais uma camada de cimento que fazem dessa
sede um bunker em que ninguém entra –e as rachaduras, cada vez maiores,
tornam o risco de desabamento iminente. (artigo publicado na edição desta sexta-feira, 11, do jornal “Folha de S.Paulo”.
* Mathias de Alencastro é doutor em ciência política na Universidade Oxford
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