Quem vê e lê há 30 anos a guerra entre os veículos de comunicação dos Barbalho e dos Maiorana – ambos atrelados a governos, e isso não é de hoje – deveria mergulhar na história política do Pará para tentar entender melhor porque os políticos não se unem em favor do desenvolvimento do nosso Estado. Na verdade, fica bem claro que eles só pensam em seus próprios interesses.
Lá atrás, bem lá atrás, no começo do século XX, lauristas e lemistas se atacavam com fúria, atentados e muito sangue nas ruas. Depois, tivemos baratistas e oposicionistas, com ódio saindo por todos os poros, matança e ataques diários pela imprensa. O banho de fezes no jornalista Paulo Maranhão, da “Folha do Norte”, é apenas um dos muitos exemplos desses confrontos que hoje se repetem e devem se intensificar, mais uma vez, nas próximas eleições.
Jornalistas como Expedito Leal, um dos mais competentes que temos, recorre a suas pesquisas, sempre muito interessantes, para mostrar a realidade da política regional. No Facebook, ele conta, com detalhes estampados em jornais da década de 50, como foi assassinado o jornalista Paulo Eleutério Filho, durante um tiroteio dentro da redação do jornal “O Liberal”.
Bebam nessa fonte inestimável dos arquivos do Expedito, os fatos como os fatos ocorreram. Expedito, como sempre gentil, autorizou a reprodução de sua narrativa e as fotos de seu implacável arquivo.
A morte de Paulo Eleutério Filho
“A eleição de 1950 foi a
mais acirrada, apaixonada e truculenta, onde a violência física e
verbal extrapolou todos os limites da intolerância entre baratistas e
coligados. O pleito para governador teria de um lado o general
Magalhães Barata e do outro, o também general Zacarias de Assumpção, um
mato- grossense que era o comandante da Zona Norte do Exército. Barata
era apoiado por seu partido o PSD(Partido Social Democrático) e
Assumpção pela Coligação Democrática Paraense um conglomerado
partidário (UDN, PSP e PSB entre os mais fortes) contrários ao caudilho
marajoara.
mais acirrada, apaixonada e truculenta, onde a violência física e
verbal extrapolou todos os limites da intolerância entre baratistas e
coligados. O pleito para governador teria de um lado o general
Magalhães Barata e do outro, o também general Zacarias de Assumpção, um
mato- grossense que era o comandante da Zona Norte do Exército. Barata
era apoiado por seu partido o PSD(Partido Social Democrático) e
Assumpção pela Coligação Democrática Paraense um conglomerado
partidário (UDN, PSP e PSB entre os mais fortes) contrários ao caudilho
marajoara.
Quem estava governando o Estado era o coronel Moura
Carvalho também militar do Exército e amigo de Barata que vencera
Assumpção em 1945, após o fim do Estado Novo, a ditadura getulista que
durou 15 anos.Barata fora nessa época o interventor no Pará, nomeado
por Vargas.E apesar de algumas medidas de caráter socializantes
realizadas em favor dos pobres, era uma pessoa autoritária, truculenta e
sem escrúpulos políticos em defesa de seus amigos.Mas era idolatrado
pelo povão, especialmente a “caboclada” – como costumava chamar aos seus
correligionários interioranos.
Carvalho também militar do Exército e amigo de Barata que vencera
Assumpção em 1945, após o fim do Estado Novo, a ditadura getulista que
durou 15 anos.Barata fora nessa época o interventor no Pará, nomeado
por Vargas.E apesar de algumas medidas de caráter socializantes
realizadas em favor dos pobres, era uma pessoa autoritária, truculenta e
sem escrúpulos políticos em defesa de seus amigos.Mas era idolatrado
pelo povão, especialmente a “caboclada” – como costumava chamar aos seus
correligionários interioranos.
No período pré-eleitoral, o clima
foi ficando cada vez mais tenso pela guerra midiática travada entre os
jornais Folha do Norte dirigido pelo proceloso jornalista Paulo
Maranhão e O Liberal que pertencia ao PSD e era o porta-voz inflamado do
baratismo.A “Folha” era a dona da opinião pública belenense.O que Paulo
Maranhão escrevia em seu jornal tinha o condão da verdade para seus
leitores: a quase totalidade da população metropolitana. O “Liberal”,
porém, incomodava por seu conteúdo panfletário e acutilante nas críticas
contra os líderes coligados, principalmente o general Assumpção.
foi ficando cada vez mais tenso pela guerra midiática travada entre os
jornais Folha do Norte dirigido pelo proceloso jornalista Paulo
Maranhão e O Liberal que pertencia ao PSD e era o porta-voz inflamado do
baratismo.A “Folha” era a dona da opinião pública belenense.O que Paulo
Maranhão escrevia em seu jornal tinha o condão da verdade para seus
leitores: a quase totalidade da população metropolitana. O “Liberal”,
porém, incomodava por seu conteúdo panfletário e acutilante nas críticas
contra os líderes coligados, principalmente o general Assumpção.
A guerra na imprensa tomou conta dos dois jornais rivais .Através de
artigos virulentos que eram assinados, apócrifos ou escritos com
pseudônimos.Pelo lado da “Folha” alguém com o codinome de Cabano
extravasava todo seu ódio contra Barata e seus seguidores.Era
identificado, porém, como sendo o ajudante- de -ordens de Assumpção, o
capitão Humberto Vasconcelos.Os editoriais e artigos do jornal baratista
tinha entre outros, João Malato que era o redator-chefe, como um de
seus pilares na pesada artilharia escrita.
artigos virulentos que eram assinados, apócrifos ou escritos com
pseudônimos.Pelo lado da “Folha” alguém com o codinome de Cabano
extravasava todo seu ódio contra Barata e seus seguidores.Era
identificado, porém, como sendo o ajudante- de -ordens de Assumpção, o
capitão Humberto Vasconcelos.Os editoriais e artigos do jornal baratista
tinha entre outros, João Malato que era o redator-chefe, como um de
seus pilares na pesada artilharia escrita.
Em resposta a um dos
comentários destemperados escritos por Cabano, o “Liberal” extrapolou
com um artigo apócrifo em que fazia menção maledicente à prótese(mão de
borracha) que Humberto Vasconcelos usava no braço direito.Ele fora
obrigado a se submeter ao implante após ter explodido uma granada,
segurando-a para fora do local onde realizava ensinamentos a seus alunos
na Escola Militar no Rio de Janeiro.Pelo gesto corajoso fora
considerado herói nacional pelo Exército.Evitara, possivelmente, a
morte de alguns de seus discípulos. O artigo fora atribuído à lavra de João Malato que morreu, entretanto, sem nunca assumir a sua autoria.
comentários destemperados escritos por Cabano, o “Liberal” extrapolou
com um artigo apócrifo em que fazia menção maledicente à prótese(mão de
borracha) que Humberto Vasconcelos usava no braço direito.Ele fora
obrigado a se submeter ao implante após ter explodido uma granada,
segurando-a para fora do local onde realizava ensinamentos a seus alunos
na Escola Militar no Rio de Janeiro.Pelo gesto corajoso fora
considerado herói nacional pelo Exército.Evitara, possivelmente, a
morte de alguns de seus discípulos. O artigo fora atribuído à lavra de João Malato que morreu, entretanto, sem nunca assumir a sua autoria.
Desnorteado pelo conteúdo ofensivo à sua honra, Vasconcelos procurou
tomar satisfações com quem de direito. No dia seguinte, um sábado de 20
de maio depois de passar na chefatura de Polícia (Eleutério ocupara
recentemente o cargo de chefe de Polícia)dirigiu-se à redação de O
Liberal que ficava na Praça Dom Macedo Costa, em frente à antiga Central
de Polícia.Eleutério era o solitário redator presente àquela hora.
tomar satisfações com quem de direito. No dia seguinte, um sábado de 20
de maio depois de passar na chefatura de Polícia (Eleutério ocupara
recentemente o cargo de chefe de Polícia)dirigiu-se à redação de O
Liberal que ficava na Praça Dom Macedo Costa, em frente à antiga Central
de Polícia.Eleutério era o solitário redator presente àquela hora.
Por
volta das 10h Humberto Vasconcelos adentra a redação e vai tomar
satisfação com Eleutério sobre o artigo.Os dois que já mantinham
antipatia mútua desde quando trabalharam no governo do então território
do Amapá, à época governado por Janary Nunes, logo se descontrolaram.E
daí em diante rapidamente estão de revólveres em punho.Vasconcelos era
um especialista em armamentos e Eleutério cultivava também a mesma
arte.
volta das 10h Humberto Vasconcelos adentra a redação e vai tomar
satisfação com Eleutério sobre o artigo.Os dois que já mantinham
antipatia mútua desde quando trabalharam no governo do então território
do Amapá, à época governado por Janary Nunes, logo se descontrolaram.E
daí em diante rapidamente estão de revólveres em punho.Vasconcelos era
um especialista em armamentos e Eleutério cultivava também a mesma
arte.
O tiroteio começa e sendo alvejado por primeiro, Eleutério
descarrega rapidamente sua arma, atirando a esmo. Vasconcelos percebe
que o adversário esgotara sua munição e por isso mesmo descera correndo
a escada da redação e homizia-se na oficina do jornal.Procurando
proteger-se atrás de uma das colunas de cimento. Ou em busca de
recarregamento para seu revólver.É atingido novamente por
Vasconcelos.Desta vez no pulmão e no fígado.
descarrega rapidamente sua arma, atirando a esmo. Vasconcelos percebe
que o adversário esgotara sua munição e por isso mesmo descera correndo
a escada da redação e homizia-se na oficina do jornal.Procurando
proteger-se atrás de uma das colunas de cimento. Ou em busca de
recarregamento para seu revólver.É atingido novamente por
Vasconcelos.Desta vez no pulmão e no fígado.
O adversário sai em
desabalada carreira pela rua e refugia-se no Café Carioca que ficava na
avenida 15 de Agosto(atual Presidente Vargas).Com a polícia em seu
encalço, logo foi alcançado e preso no bar.Levado para a Central de
Polícia, teve no entanto o apoio imediato de seus colegas do Exército e
por isso sendo transferido para o Hospital Militar pois também
apresentava ferimentos.
desabalada carreira pela rua e refugia-se no Café Carioca que ficava na
avenida 15 de Agosto(atual Presidente Vargas).Com a polícia em seu
encalço, logo foi alcançado e preso no bar.Levado para a Central de
Polícia, teve no entanto o apoio imediato de seus colegas do Exército e
por isso sendo transferido para o Hospital Militar pois também
apresentava ferimentos.
Ainda que socorrido com vida e levado
para a Santa Casa onde foi operado por cerca de seis médicos, Eleutério
não resiste às delicadas cirurgias e poucas horas depois vem a falecer.
para a Santa Casa onde foi operado por cerca de seis médicos, Eleutério
não resiste às delicadas cirurgias e poucas horas depois vem a falecer.
Os desdobramentos dessa crise foram terríveis até a realização da
eleição em outubro quando Assumpção por estreita diferença de votos
derrotou Barata e governou o Estado no período 1951/1955.
eleição em outubro quando Assumpção por estreita diferença de votos
derrotou Barata e governou o Estado no período 1951/1955.
O
capitão Humberto Vasconcelos foi julgado e impronunciado(quando a
acusação é considerada improcedente) alguns anos depois. E ainda seria
eleito deputado estadual pela “Coligação” nesse mesmo pleito passando a
gozar de imunidade parlamentar. Pouco tempo depois, entretanto, romperia
com o novo governador e seu ex -amigo de caserna.Como também fizeram
outros deputados “coligados” como Cléo Bernardo, Imbiriba da Rocha e
José Maria Chaves todos eleitos naquela legislatura.
capitão Humberto Vasconcelos foi julgado e impronunciado(quando a
acusação é considerada improcedente) alguns anos depois. E ainda seria
eleito deputado estadual pela “Coligação” nesse mesmo pleito passando a
gozar de imunidade parlamentar. Pouco tempo depois, entretanto, romperia
com o novo governador e seu ex -amigo de caserna.Como também fizeram
outros deputados “coligados” como Cléo Bernardo, Imbiriba da Rocha e
José Maria Chaves todos eleitos naquela legislatura.
As pesquisas
as quais recorri nos jornais daquela época, respaldaram-se em dois
periódicos tidos como imparciais em seu noticiário:A Província do Pará,
já pertencente aos Diários Associados e O Estado do Pará que era
dirigido com isenção crítica por Santana Marques, um dos maiores nomes
do jornalismo paraense de todos os tempos.
as quais recorri nos jornais daquela época, respaldaram-se em dois
periódicos tidos como imparciais em seu noticiário:A Província do Pará,
já pertencente aos Diários Associados e O Estado do Pará que era
dirigido com isenção crítica por Santana Marques, um dos maiores nomes
do jornalismo paraense de todos os tempos.
Segundo informações
da biblioteca do Centur, a coleção da Folha do Norte daquela época está
em processo de digitalização e a do Liberal não consta do catálogo
jornalístico do ano de 1950″.
da biblioteca do Centur, a coleção da Folha do Norte daquela época está
em processo de digitalização e a do Liberal não consta do catálogo
jornalístico do ano de 1950″.
Fotos:
1 – A manchete do “Estado do Pará” narrando a tragedia;
2 – Paulo Eleutério Filho;
3 – Humberto Vasconcelos no momento da prisão;
4 – Recortes de jornais da época.
1 – A manchete do “Estado do Pará” narrando a tragedia;
2 – Paulo Eleutério Filho;
3 – Humberto Vasconcelos no momento da prisão;
4 – Recortes de jornais da época.
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A vítima: Paulo Eleutério Filho
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